segunda-feira, 10 de março de 2008

Minha primeira "Hora do Conto"

Segunda feira, um avalanche de jornais e revistas que chegam no fim de semana cai na minha cabeça quando entro na recepção da escola. Ao abrir a porta da biblioteca, crianças apressadas vão trançando pelos corredores. Elas vasculham o armário individual e pegam seus livros didáticos da próxima aula. Ah que inveja os livros de romance sentem dos livros didáticos. Se pudessem acompanhar aquelas crianças nas aulas, ficarem quentinhos ali, guardados nos armários esperando a hora de serem folheados e lidos.

Segunda terremoto! Carimbar jornais mil, Veja, revista disto e daquilo. grampear coisas. alunos pedindo livros didáticos que esqueceram em casa e a danada da catalogação por fazer. dos 10.000, já fiz 1000. Magros dez por cento do que já deveria estar pronto para atendem melhor meus pupilos. Olho no relógio e, entre um atendimento e outro, tudo passou tão rápido. dez horas da manhã, assim, do nada. [pensando]O TEMPO É COMO UM SORVETE, NÃO ADIANTA QUERER GUARDAR NO BOLSO PRA CHUPAR DEPOIS, ELE DERRETE, VAI-SE ENTRE OS DEDOS. O MELHOR MESMO É LOTAR DE CALDA DE CHOCOLATE E COMÊ-LO NA HORA, SENTINDO CADA MOLÉCULA DO SEU SABOR.Mas o pensamento não pode divagar muito, devo tomar um café para prosseguir com a brincadeira feliz de estar nesta biblioteca, atender almas sedentas daquilo que nem sabem que estão, dar comida invisível a mentes voláteis. Atravesso o corredor e começo a tomar meu café, não bem café, um chá "mata leão" da pior espécie. Não sei quem instituiu este chá chato como chá para servir em toda a empresa, mas é dele que bebo todos os dias para molhar o pão na boca e engolir correndo o bolo. Afinal não vejo a hora de voltar para os meus amigos livros e para meus clientes, os usuários. Diversão sem preço. Olho pela porta para ver se não caiu nenhum inseto em minha teia. ainda não. Hoje de manhã consegui pegar uma mosquinha na teia. Coloquei um jornal onde estava a manchete "Será que o computador vai nos entender? " embaixo do teclado de um dos computadores da biblioteca. Isto era uma armadilha. Quem leria a manchete e se interessaria pelo conteúdo? Não demorou muito, um dos adolescentes mais bagunceiros que conheço na escola caiu direitinho. Simples e naturalmente, pegou o jornal e começou a ler e a sorver o conteúdo. "muito bom Rudi, ponto pra você, pegou mais um". Lembrei-me da festa do sovete onde umas crianças leram uma poesia que imprimi de preguei no chão do páteo, tirei até foto. Gritei por dentro: "P. Q.P. funciona !" mas abafei o grito, afinal estava em uma escola e não ia ficar bem.

Olho pela porta de novo. Um serzinho pequeno cruza pra lá, depois pra cá e ...entra. Dali apouco vários deles aparecem. É a classe do pré-escolar. Gente em miniatura aos montes, anteninhas ligadissimas, chega a dar até choque quando encosta...tzzz. Poxa, eu havia combinado de contar uma historia para eles. Na correria não preparei nada mas iria improvisar. Seria fácil como contar uma historia para a Anne, minha pequena de 9. Afastei os moveis para dar espaço aos pequenos soldadinhos e bailarinas. Eles iam sentando aos poucos. Sempre perguntando muito, mexendo em tudo....santa bagunça, eu adoro isto!. Prefiro do que o gelo do nada fazer e nada ter para fazer...adoro arrumar a bagunça quando eles saem. São uns furacõezinhos maravilhosos que me enchem a alma de esperança nos leitores do futuro. Perguntadeiros, conversadeiros, espertos pedacinhos de gente. Peguei um livro que não fosse muito extenso e comecei a contar uma historia de princesa, a princesa "Mãe d'água". A principio me pareceu uma historinha que os preparava para escutar lendas da amazônia, mas ao final era coisa mais requintada. Tinha amor, paixão, Conquistas de um principe guerreiro e um nascimento. Dai tinha uma separação entre os pais e o filho ficava com o pai. Dai o pai casava com outra porque a mãe do menino sumiu por muito tempo procurando a avó dele. Bem, achei complicadinha a historia que eu mesmo escolhi a esmo...mas eu ia parando e perguntando...O que foi que aconteceu até agora? Um japinha era o melhor de todos. Ele repetia tudo que eu tinha lido bem certinho. Um resumo preciso. Outros tentavam , mas o japinha era imbatível, o melhor. Na frente tinha uma pequena bailarina de cabelinhos encaracolados que também não dava mole. Respondia certinho que o pai separou da mãe [eu pensando] cara, que historia complicada...será que é para prepara-los para a sociedade real? aquela que prega que casar é o ideal mas que ao fim tem tanta separação de casais? Me aventurei pela historia a dentro. As vezes com medo do que viria, as vezes torcendo para continuar, depois para acabar logo. Quando acabou, morri por dentro. Foi muito bom. Ter aquela atenção que parecia meio desatenciosa, mas que estava ali, na ponta da lingua quando eu perguntava. Dai, eles se foram agradecendo pela historia.Furacaneando pra cá e pra lá, a professora os juntou perto da porteira da biblioteca...uma portinha balcão que está lá nem sei pra que...talvez para proteger os bibliotecários anteriores daqueles pequenos tornados. Eu quero mais é que eles venham e derrubem tudo. Construo de novo com o maior prazer. E esta foi a minha primeira hora do conto. Espero melhorar muito, mas gostei do que senti ao contar a historia. Era um misto de poder de locutor com suspense do que viria de leitor. O dia terminou muito rapido. sai apressado depois do almoço. Peguei um volume das obras completas de Vitor Hugo para ler no caminho até o carro. A pressa foi tanta que peguei o volume 22.[meio de historia, parece livro didatico..ninguém merece] mesmo assim li um pedaço do meio de uma historia para a pequena Anne enquanto subiamos a ladeira até o carro. Atrasadissimo mas bem feliz.

5 comentários:

Paulah disse...

Adorei!
Tenho até inveja, tenho vontade fazer um trabalho do tipo!

[]s
Paula

Unknown disse...

Companheiro!!!! Tudo bom,eu não sei se voce que estava na audiencia de educação no fim de novembro de 2007, mas se voce melhor,percebi que comungamos da mesma ideia, eu sou da fesps e sou a favor da biblioteca escolar, estamos se reunindo aqui na fespsp, discutindo e querendo agir sobre os problemas que a nossa area sofre, temos que nos unir fespsp ,usp e unifai queremos lutar pela nossa area,mais detalhes entre contato pelo e-mail
eusoumeuguia@yahoo.com.br

Um grande abraço

Marcos Antonio de Araújo
7ºsemestre/FESPSP

Rudi Santos disse...

Paula, tem que ser uma vontade maior do que o "queria" pois para mim primeiro foi dificil de achar a escola e depois manter-me trabalhando apesar de estudar em periodo matutino. tive que perder duas materias do semestre por isto.

Roseli Venancio Pedroso disse...

Olá Rudi, adorei seu blog. Parabéns! Sou bibliotecária escolar e entendo bem o que você retrata aqui. Tenho um blog que fiz recentemente. Já vou add você por lá. Visite-me.
Abraços,
Roseli

Rafaela, Aquela que Deus curou disse...

"Furacaneando", Rudi, amei o que li, fico feliz por saber que existem pessoas como vc que amam o que fazem. A biblioteca escolar precisa de vida, e por isso precisam de gente viva, com entusiasmo, como você!! Parabéns